Este espaço tem a pretensão de ser um abrigo para meus devaneios e viagens através dos meandros da Filosofia. Estará sempre em construção,posto que atingir os limites do conhecimento jamais será possível. Nem arriscaria dizer que pode haver um início, quanto mais limites!
Quem sou eu
- Kalós Kai Agathós
- "Se um homem não quer pensar por si, o plano mais seguro é pegar um livro toda vez que não tiver nada para fazer. É esta prática que explica por que erudição torna a maior parte dos homens mais estúpidos e tolos do que são por natureza (...)" ARTHUR SCHOPENHAUER (A Arte de Escrever)
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Lógica Aristotélica
ESTUDO DIRIGIDO
Silogismo
Definição: do grego antigo; Significa “conexão de idéias”, “raciocínio”. É um termo filosófico com o qual Aristóteles designou a argumentação lógica perfeita, constituída de três proposições declarativas que se conectam de tal modo que a partir das primeiras duas, chamadas premissas, é possível deduzir uma conclusão. A teoria do silogismo foi exposta por Aristóteles em Analíticos Anteriores.
A palavra “silogismo” tem dois significados diferentes. Por um lado, aplica-se a qualquer tipo de argumento dedutivo. Quando Aristóteles introduziu a palavra grega correspondente, tanto a usava deste modo genérico, para falar de qualquer tipo de argumento dedutivo, como a usava para falar especificamente de argumentos com uma certa configuração. Com o tempo, contudo, a palavra passou a ser usada apenas neste segundo sentido mais específico. Um silogismo é um tipo especial de argumento dedutivo, que usa apenas as proposições de tipo A, E, I e O, e que tem uma determinada configuração.
Além de ter duas premissas e unicamente proposições do tipo A, E, I ou O, um argumento tem de obedecer à seguinte configuração para ser um silogismo:
Premissa Menor Termo Menor Termo Médio
Premissa Maior Termo Maior Termo Médio
Conclusão Termo Menor Termo Maior
Obs: num silogismo, as premissas são um ou dois juízos que precedem a conclusão e dos quais ela decorre como conseqüente necessário dos antecedentes, dos quais se infere a conseqüência. Nas premissas, o termo maior (predicado da conclusão) e o termo menor (sujeito da conclusão) são comparados com o termo médio, e assim temos a premissa maior e a premissa menor segundo a extensão de seus termos.
Um silogismo é um argumento com duas premissas e uma conclusão, que contém unicamente proposições do tipo A, E, I ou O e que contém unicamente três termos:
1. O termo menor, que é o sujeito da conclusão e que se repete numa das premissas e só numa;
2. O termo maior, que é diferente do termo menor e é o predicado da conclusão, repete-se na outra premissa e só nela;
3. Um só termo médio, que ocorre nas duas premissas e só nela.
Resumo: O termo menor é por definição o termo sujeito da conclusão e tem de ser diferente do termo maior. Por sua vez, a premissa menor é por definição a única premissa que contém o termo menor – seja como termo sujeito, seja como termo predicado.
O termo maior é por definição o termo predicado da conclusão. Por sua vez, a premissa maior é por definição a única premissa que contém o termo maior –seja como termo sujeito, seja com termo predicado.
A ordem das premissas é logicamente irrelevante, mas era até há pouco tempo habitual colocar em primeiro lugar a premissa maior. Esta opção tem a desvantagem de tornar a validade dos silogismos menos óbvia. A premissa menor é sempre a premissa onde ocorre o termo que na conclusão é o termo sujeito, independentemente de ser a primeira ou a segunda premissa. O termo menor é sempre o termo sujeito da conclusão, e o termo maior é sempre o termo predicado da conclusão.
Exemplo clássico:
Todo homem é mortal (premissa maior, na qual homem é o sujeito lógico, e fica atrás da cópula; é representa a cópula, isto é, o verbo que exprime a relação entre sujeito e predicado; mortal é o predicado lógico, e fica após a cópula);
Sócrates é homem (premissa menor)
Logo, Sócrates é mortal (conclusão).
Onde:
Sócrates – termo menor, sujeito da conclusão;
Homem – termo médio, repete-se nas duas premissas;
Mortal – termo maior, predicado da conclusão.
QUADRADO LÓGICO OU QUADRADO DOS OPOSTOS:
Diagrama que ilustra as diversas relações lógicas entre as quatro formas lógicas da lógica aristotélica
Assim, entre as formas lógicas A e I, por um lado, e E e O, por outro, há uma relação de subalternidade: A implica I, e E implica O. Esta relação é falsa, a menos que se excluam classes vazias; mas sem ela a lógica aristotélica cai por terra. De modo que é necessário excluir todas as proposições que falsificam a relação de subalternidade. Para isso, exclui-se todas as proposições que se refiram a classes vazias (classes como "lobisomens", que não têm elementos). Com base na mesma exclusão de classes vazias é possível afirmar que as formas A e E são contrárias, isto é, que não podem ser ambas verdadeiras, mas podem ser ambas falsas. Ainda com base na mesma exclusão é possível afirmar que as formas I e O são subcontrárias, isto é, que não podem ser ambas falsas, mas podem ser ambas verdadeiras. A única relação do quadrado que não depende da exclusão de classes vazias é a de contraditoriedade ou negação, que existe entre A e O, por um lado, e entre E e I, por outro. Isto significa que A e O têm sempre valores de verdade opostos: se A for verdadeira, O será falsa e vice-versa; se E for verdadeira, I será falsa, e vice-versa. O diagrama é ainda hoje útil para ilustrar a negação carreta de proposições universais.
Obs: A tábua das oposições, também chamado quadrado lógico ou quadrado dos opostos, tem origem obscura, mas geralmente se aceita que Boécio lhe deu a forma final. Trata-se de um artifício didático que indica as relações lógicas fundamentais.
Assim, temos o seguinte esquema de premissas:
A - UNIVERSAL AFIRMATIVA (Todo homem é mortal)
E – UNIVERSAL NEGATIVA (Nenhum homem é mortal)
I – PARTICULAR AFIRMATIVA (Algum homem é mortal)
O - PARTICULAR NEGATIVA (Algum homem não é mortal).
LEI DE OPOSIÇÃO
As leis de oposição regem as relações entre as premissas.
Contraditoriedade: se um modo é verdadeiro, o outro é falso;
Contrariedade: ocorre apenas nos modos A e E. As premissas contrárias enrtre si não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, mas podem ser falsas ao mesmo tempo. Pois, se assim forem, a particular afirmativa será falsa por ser a contraditória da universal negativa e verdadeira, por ser a conversão da universal afirmativa.
Subcontrariedade: as premissas não podem ser falsas ao mesmo tempo, mas podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Pois se assim forem, as contrárias de quem elas são contraditórias serão simultaneamente verdadeiras, o que é um absurdo.
FIGURAS E MODOS DO SILOGISMO
Um raciocínio dedutivo é composto por proposições. As proposições, por sua vez, são compostas por termos. A maneira pela qual as proposições estão dispostas é chamada de modo do silogismo. A posição que o termo médio assume no argumento (sujeito ou predicado), origina a figura do silogismo.
Existem quatro espécies de proposições: A, E, I O. Entre estas proposições, é possível 64 combinações na estrutura do silogismo. Deste total, apenas 19 combinações são válidas, sendo que as demais violam uma ou mais regras do silogismo. Estas 19 combinações distribuem-se nas quatro figuras do silogismo.
UNIVERSAIS AFIRMATIVAS
Tipo: A
Classificação: Universal afirmativa
Forma lógica: Todos A são B
Expressão canônica: Todos os seres humanos são mortais.
Expressões equivalentes:
• Todo ser humano é mortal
• Os seres humanos são mortais
• O ser humano é mortal
• Só há seres humanos mortais
• Não há seres humanos que não sejam mortais
• Quem é ser humano é mortal
• Se um ser é homem, é mortal
• Qualquer ser humano é mortal.
UNIVERSAIS NEGATIVAS
Tipo: E
Classificação: Universal negativa
Forma lógica: Nenhum A é B
Expressão canônica: Nenhuns seres humanos são quadrúpedes.
Expressões equivalentes:
• Nenhum ser humano é quadrúpede
• Todos os seres humanos são não quadrúpedes
• O ser humano não é quadrúpede
• Só há seres humanos não quadrúpedes
• Não há seres humanos quadrúpedes
• Que é ser humano não é quadrúpede
• Se um ser é humano, não é quadrúpede.
PARTICULARES AFIRMATIVAS
Tipo: I
Classificação: Particular Afirmativa
Forma lógica: Alguns A são B
Expressão canônica: Alguns seres humanos são simpáticos.
Expressões equivalentes:
• Há seres humanos simpáticos
• Existem seres humanos simpáticos
• Há seres que são humanos e simpáticos
• Pelo menos um ser humano é simpático.
PARTICULARES NEGATIVAS:
Tipo: O
Classificação: Particular negativa
Forma lógica: Alguns A não são B
Expressão canônica: Alguns seres humanos não são simpáticos
Expressões equivalentes:
• Há seres humanos que não são simpáticos
• Existem seres humanos que não são simpáticos
• Nem todos os seres humanos são simpáticos
• Há seres que são humanos e não são simpáticos
• Pelo menos um ser humano não é simpático.
FIGURAS E MODOS DO SILOGISMO
FIGURA 1 – SU-PRE FIGURA 2 – PRE-PRE FIGURA 3 – SU-SU FIGURA 4 – PRE-SU
BAR-BA-RA (AAA) CES-A-RE (EAE) DA-RAP-TI (AAI) BAM-A-LIP (AAI)
CE-LA-RENT (EAE) CAM-ES-TRES (AEE) FE-LAP-TON (EAO) CA-LEM-ES (AEE)
DA-RI-I(AII) FES-TI-NO (EIO) DIS-AM-IS (IAI) DIM-A-TIS (IAI)
FE-RI-O (EIO) BAR-OC-O (AOO) BOC-AR-DO (OAO) FES-AP-O (EAO)
DA-TIS-I (AII) FRES-IS-ON (EIO)
PRIMEIRA FIGURA
A primeira figura não muda, por ser perfeita. Aqui, o termo médio ocupa a posição de sujeito na premissa maior e predicado na premissa menor (Su-pre).
Nota Importante: TERMO MÉDIO é o termo que se repete nas duas premissas, mas não aparece na conclusão.
Exemplo 1:
Todo metal é corpo (BAR)
Todo chumbo é metal (BA)
Todo chumbo é corpo (RA)
Exemplo 2:
Todos os historiadores medievais são eruditos (DA)
Pedro Abelardo é historiador medieval (RI)
Pedro Abelardo é erudito (I).
Nota: Na figura 1, os modos legítimos são: BAR-BA-RA (AAA); CE-LA-RENT (EAE); DA-RI-I (AII); FE-RI-O (EIO). Essas denominações mnemônicas foram dadas pelo filósofo medieval do século XII, Pedro Abelardo.
SEGUNDA FIGURA
Na segunda figura, o termo médio ocupa a posição de predicado em ambas as premissas (Pre-Pre).
Exemplo 1:
Se todo círculo é redondo (CAM)
E se nenhum triângulo é redondo (ES)
Então, nenhum triângulo é círculo (TRES)
Conversão mediante transposição de premissas e mais conversão simples...
Pois, se nenhum redondo é triângulo (CE)
Esse todo círculo é redondo (LA)
Então, nenhum círculo é triângulo (RENT).
(Mas, nenhum triângulo é redondo)
Logo, nenhum triângulo é círculo.
Exemplo 2:
Se todo papa é santo (BAR)
E se algum clérigo não é santo (OC)
Então, algum clérigo não é papa (O)
Conversão para BAR-BA-RA...
Pois, se todo papa é santo (BAR)
E se todo clérigo é papa (BA)
Então, todo clérigo é santo (RA)
(Mas, se algum clérigo não é santo)
Logo, algum clérigo não é papa.
Nota: Na figura 2, os modos legítimos são: CES-A-RE (EAE); CAM-ES-TRES (AEE); FES-TI-NO (EIO); BAR-OC-O (AOO).
TERCEIRA FIGURA
Na terceira figura, o termo médio ocupa a posição de sujeito nas duas premissas (Su-Su).
Exemplo 1:
Se nenhum mamífero é pássaro (FE)
E se algum mamífero é voador (RIS)
Então, algum voador não é pássaro (ON)
Conversão simples na segunda premissa
Pois, se nenhum mamífero é pássaro (FE)
E se algum voador é mamífero (RI)
Então, algum voador não é pássaro (O)
Exemplo 2:
Se todo ditador é déspota (DA).
E se algum ditador é tirano (TIS).
Então, algum tirano é déspota (I).
Conversão simples na segunda premissa...
Pois, se todo ditador é déspota (DA)
E se algum tirano é ditador (RI)
Então, algum tirano é déspota (I)
Nota: Na figura 3, os modos legítimos são: DA-RAP-TI (AAI); FE-LAP-TON (EAO); DIS-AM-IS (IAI); BOC-AR-DO (OAO); DA-TIS-I (AII); FE-RIS-ON (EIO).
QUARTA FIGURA
Na figura 4, o termo médio ocupa a posição de predicado na premissa maior e de sujeito na premissa menor (Pre-Su).
Exemplo 1:
Se todo ditador é déspota (BAM)
E se todo déspota é tirano (A)
Então, algum tirano é ditador(LIP)
Conversão para a primeira figura, com transposição de premissa...
Pois, se todo déspota é tirano (BAR)
E se todo ditador é déspota (BA)
Então, todo ditador é tirano (RA)
Nota: Na figura 4, os modos legítimos são: BAM-A-LIP (AAI); CA-LEM-ES (AEE); DIM-A-TIS (IAI); FES-AP-O (EAO); FRES-IS-ON (EIO).
REDUÇÃO DOS MODOS
Todos os modos imperfeitos do silogismo, isto é, a segunda, terceira e quarta figuras, devem ser transformadas em modos perfeitos da primeira figura, pois não respeitam a hierarquia dos termos. As palavras mnemônicas auxiliam na redução. Se as vogais indicam os modos, a quantidade e a qualidade das premissas, as consoantes S, P, M e C indicam a maneira pela qual a redução será feita. As consoantes iniciais indicam o modo da primeira figura.
Para isso, existem quatro possibilidades.
(S) Conversão direta: troca-se o sujeito pelo predicado e vice-versa. Por exemplo:
Todo mortal é homem → Todo homem é mortal.
(P) Conversão acidental: a premissa tem seu sujeito e predicado trocados entre si. Por exemplo:
Todo homem é mortal → Algum mortal é homem.
(M) Transposição de premissas: se uma premissa for maior, passa a ser menor e vice-versa.
(C) Redução por absurdo: da conclusão deste silogismo, elaboramos sua contraditória e substituímos a premissa assinalada com a consoante C, e concluímos novamente.
REGRAS DO SILOGISMO
Para que um silogismo seja válido, sua estrutura deve respeitar regras. Tais regras, em número de oito, permitem verificar a correção ou incorreção do silogismo. As quatro primeiras regras são relativas aos termos e as quatro últimas são relativas às premissas. São elas:
1. Todo silogismo contém somente três termos: maior, médio e menor. O termo maior é sempre predicado da conclusão e o termo menor é sempre o sujeito da conclusão.
2. Os termos da conclusão não podem ter extensão maior que os termos das premissas.
3. O termo médio não pode entrar na conclusão.
4. O termo médio deve ser universal ao menos uma vez. É preciso ao menos uma universal para se obter uma conclusão.
5. De duas premissas negativas, nada se conclui.
6. De duas premissas afirmativas não pode haver conclusão negativa. É preciso pelo menos uma afirmativa para se ter uma conclusão.
7. A conclusão segue sempre a premissa mais fraca. A particular é mais fraca que a universal. E a negação é mais fraca que a afirmação.
8. De duas premissas particulares, nada se conclui.
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