terça-feira, 5 de janeiro de 2010

História da Filosofia

HISTÓRIA DA FILOSOFIA

Will Durant

Tópicos


1. INTRODUÇÃO

Toda ciência começa como filosofia e acaba como arte; surge na hipótese e flui para a realização. Filosofia é uma interpretação hipotética do desconhecido.

Filosofia significa e abrange cinco campos de estudo e discurso: a lógica, a estética, a ética, a política e a metafísica. Lógica é o estudo do método ideal de pensamento e pesquisa. Estética é o estudo da forma ideal, ou beleza; é a filosofia da arte. Ética é o estudo da conduta ideal; o mais elevado dos conhecimentos. Política é o estudo da organização social ideal. Metafísica é o estudo da “realidade máxima” de todas as coisas: da natureza real e final da “matéria” (ontologia), da “mente” (psicologia filosófica) e da inter-relação de “mente” e de “matéria” nos processos de percepção de conhecimento (epistemologia).

O gênio ouve os sobretons e a música das esferas; o gênio sabe o que Pitágoras queria dizer quando declarou que a filosofia é a mais sublime das músicas.

2. PLATÃO

“Porque um homem livre deve ser livre também na aquisição do conhecimento. (...) O conhecimento que é adquirido sob coação não se fixa na mente. Por isso, não usem coação, mas deixem que a educação inicial seja mais uma espécie de diversão; isso lhes permitirá mais a descoberta da tendência natural da criança (536)”.

“Pensar com clareza, que é metafísica; e governar com inteligência, que é política. (...) A nossa jovem Elite precisa aprender a pensar com clareza. Com essa finalidade, ele irá estudar a doutrina das Idéias”.
Para Platão, como para Bertrand Russel, a matemática é, portanto, o indispensável prelúdio à filosofia e à sua mais alta forma.

A essência de uma educação mais elevada é a busca das Idéias.

Temos de classificar e coordenar nossa experiência dos sentidos em termos de lei e de propósito; só pela falta disso é que a mente do imbecil difere da mente de César.

Generalizações e abstrações de nada valem se não forem testadas por este mundo concreto.

Por filosofia Platão entende uma cultura ativa, sabedoria que se mistura com a atividade concreta da vida; não entende um metafísico de gabinete e sem utilidade; Platão “é o homem que menos se assemelha a Kant, o que é (com todo respeito) um grande mérito”.

Em resumo: a sociedade perfeita seria aquela em que cada classe e cada unidade estivesse fazendo o trabalho ao qual sua natureza e sua aptidão melhor se adaptassem; aquela em que nenhuma classe ou indivíduo iria interferir nos outros, mas todos iriam cooperar na diferença para produzir um todo eficiente e harmonioso (433-4). Este seria um Estado justo.

“Justiça”, diz Platão, “é ter e fazer o que nos compete” (433).

“...cada homem irá receber o equivalente àquilo que produz e irá exercer a função para a qual esteja mais bem preparado”.

Justiça seria como aquela harmonia de relações graças à qual os planetas são mantidos unidos em seu movimento ordenado.

“táxis Kai Kosmos” – uma ordem e a beleza.
A verdade muda de roupa com freqüência (...), mas sob o novo hábito continua sempre a mesma. (...) Todas as concepções morais giram em torno do bem geral.

Moralidade, disse Jesus, é bondade para com os fracos; moralidade, disse Nietzsche, é a bravura dos fortes; moralidade, disse Platão, é a eficiente harmonia do todo”.

Grande parte da política do catolicismo derivou das “mentiras reais” de Platão ou foi por elas influenciada: as idéias do céu, do purgatório e do inferno, em sua forma medieval, têm sua origem detectada no último livro de A República.

Arruma os homens em classes como um entomologista classifica moscas; e não é contrário a usar embustes sacerdotais para assegurar os seus fins.

3. ARISTÓTELES

(...) Mas os dois (Platão e Aristóteles) eram gênios; e é notório que os gênios combinam entre si com a mesma harmonia com que a dinamite combina com o fogo.

A sua metafísica surgiu de sua biologia.

Matéria, em seu sentido mais amplo, é a possibilidade de forma.

Entre várias causas que determinam um acontecimento, a causa final, que determina o propósito, é a mais decisiva e importante.

Agente motor imóvel = primum móbile immotum.

Enteléquia (Entelecheia) = tendo (echo) sua finalidade (telos) dentro (entos); um daqueles magníficos termos aristotélicos que reúnem em si mesmos toda uma filosofia.

Aristóteles destrói a alma a fim de lhe dar a imortalidade.
Aristóteles começa reconhecendo francamente que o objetivo da vida não é a bondade pela bondade, mas a felicidade.

A amizade é mais necessária aos felizes do que aos infelizes; porque a felicidade é multiplicada quando é compartilhada.

Aristóteles combate o realismo de Platão em relação aos universais, e o seu idealismo quanto ao governo.

“Desde a hora do nascimento, alguns são destinado à sujeição, e outros ao comando”.

“O escravo é uma ferramenta dotada de vida; a ferramenta é um escravo inanimado”.

“Se todo instrumento realizasse o seu trabalho, obedecendo ou antevendo a vontade dos outros (...), se a lançadeira tecesse, ou se o plectro tocasse a lira, sem mão a guiá-lo, os chefes não precisariam, com certeza, de assistentes, nem os mestres de escravos”.

Através da fala, o homem desenvolveu a sociedade; através da sociedade, a inteligência; através da inteligência, a ordem; e através da ordem, a civilização. “Para viver sozinho”, diz Aristóteles, “é preciso ser um animal ou um deus” (Política, I, 2. “Ou”, acrescenta Nietzsche, que extrai quase toda a sua filosofia política de Aristóteles, “as duas coisas – isto é, filósofo.”

O governante que quiser evitar uma revolução deve evitar extremos de pobreza e riqueza.

“A dificuldade com a aristocracia hereditária está em que ela não tem base econômica permanente. (...) Onde a capacidade não ocupa o primeiro lugar, não existe a verdadeira aristocracia”.

A democracia é, em geral, o resultado de uma revolução contra a plutocracia.
Tendo em vista que o povo é enganado com muita facilidade, e é muito volúvel quanto a seus pontos de vista, a eleição deveria ser limitada aos inteligentes. O que precisamos é de uma combinação de aristocracia e democracia.

Ele acha que o silogismo é uma descrição da maneira de raciocinar dos homens. (...) Supõe que o pensamento começa com premissas e procura as conclusões dessas premissas, quando na verdade o pensamento começa com conclusões hipotéticas r procura as premissas que o justifiquem.

(...) Como seríamos tolos a ponto de esquecer que dois mil anos apenas alteraram os pontos insignificantes da lógica de Aristóteles, que Occam, Bacon, Whewell, Mill e uma centena de outros só acharam manchas em seu sol e que a criação, por Aristóteles, dessa nova disciplina de pensamento e a sua firme criação das linhas essenciais dessa disciplina continuam entre as duradouras realizações da mente humana!

A ética de Aristóteles é uma ramificação de sua lógica: a vida ideal é como um silogismo adequado.

Ele se esquece que o comunismo de Platão destinava-se apenas à elite, a minoria altruísta e desprovida de ganância.

Não percebe que o controle individual dos meios de produção só era estimulante e salutar quando esses meios eram tão simples que podiam ser adquiridos por qualquer homem.

...E nos primeiros círculos do Inferno, diz Dante:
Vi, lá, o Mestre daqueles que sabem,
Em meio à família filosófica,
Por todos admirado e por todos reverenciado;
Lá vi também Platão, e Sócrates,
Mais perto dele do que os demais.
4. BACON

O segredo da paz não é tornar nossas realizações iguais aos nossos desejos, mas baixar nossos desejos ao nível de nossas realizações. “Se o que você possui lhe parece insuficiente”, disse o estico Sêneca, “então, mesmo que você possua o mundo, ainda irá sentir-se infeliz”.

Achava (...) que o conhecimento não aplicado em ação era uma pálida vaidade acadêmica.

“A indagação da verdade, que é namorá-la ou cortejá-la; o conhecimento da verdade, que é o elogio a ela; e a crença na verdade, que é gozá-la, são o bem soberano das naturezas humanas”.

“Certos livros são para serem provados, outros para serem engolidos, e alguns poucos para serem mastigados e digeridos”.

“O dinheiro é como o esterco, só é bom se for espalhado”.

Para ele, a ciência, por si só, não é suficiente: deve haver uma força e uma disciplina fora das ciências para coordená-las e dirigi-las para um objetivo.

“O saber conquista ou alivia o medo da morte e de um destino adverso”.

“A filosofia nos leva, primeiro, a procurar os bens do espírito; o resto será fornecido ou, então, dele não se sentirá muita necessidade”.

Toda inteligência clara e honesta sabe que nenhuma causa pode ser sem causa, nem qualquer motor não movido. Talvez a maior reconstrução na filosofia devesse simplesmente pararmos de mentir.

“Os homens não são animais eretos, mas deuses imortais”.

Francis Bacon distingue três tipos de ambição da Humanidade. O primeiro é o daqueles que desejam estender seu poder em seu país natal; tipo este que é vulgar e degenerado. O segundo é o daqueles que trabalham para estender o poder de seu país e o seu domínio entre os homens; este tem, sem dúvida, mais dignidade, mas não menos ganância. Mas se um homem se esforça por estabelecer e ampliar o poder e o domínio da própria raça humana sobre o universo, sua ambição é, sem dúvida, uma coisa mais sadia e mais nobre do que as outras duas”.

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