HISTÓRIA DA FILOSOFIA
Will Durant
Tópicos
1. INTRODUÇÃO
Toda ciência começa como filosofia e acaba como arte; surge na hipótese e flui para a realização. Filosofia é uma interpretação hipotética do desconhecido.
Filosofia significa e abrange cinco campos de estudo e discurso: a lógica, a estética, a ética, a política e a metafísica. Lógica é o estudo do método ideal de pensamento e pesquisa. Estética é o estudo da forma ideal, ou beleza; é a filosofia da arte. Ética é o estudo da conduta ideal; o mais elevado dos conhecimentos. Política é o estudo da organização social ideal. Metafísica é o estudo da “realidade máxima” de todas as coisas: da natureza real e final da “matéria” (ontologia), da “mente” (psicologia filosófica) e da inter-relação de “mente” e de “matéria” nos processos de percepção de conhecimento (epistemologia).
O gênio ouve os sobretons e a música das esferas; o gênio sabe o que Pitágoras queria dizer quando declarou que a filosofia é a mais sublime das músicas.
2. PLATÃO
“Porque um homem livre deve ser livre também na aquisição do conhecimento. (...) O conhecimento que é adquirido sob coação não se fixa na mente. Por isso, não usem coação, mas deixem que a educação inicial seja mais uma espécie de diversão; isso lhes permitirá mais a descoberta da tendência natural da criança (536)”.
“Pensar com clareza, que é metafísica; e governar com inteligência, que é política. (...) A nossa jovem Elite precisa aprender a pensar com clareza. Com essa finalidade, ele irá estudar a doutrina das Idéias”.
Para Platão, como para Bertrand Russel, a matemática é, portanto, o indispensável prelúdio à filosofia e à sua mais alta forma.
A essência de uma educação mais elevada é a busca das Idéias.
Temos de classificar e coordenar nossa experiência dos sentidos em termos de lei e de propósito; só pela falta disso é que a mente do imbecil difere da mente de César.
Generalizações e abstrações de nada valem se não forem testadas por este mundo concreto.
Por filosofia Platão entende uma cultura ativa, sabedoria que se mistura com a atividade concreta da vida; não entende um metafísico de gabinete e sem utilidade; Platão “é o homem que menos se assemelha a Kant, o que é (com todo respeito) um grande mérito”.
Em resumo: a sociedade perfeita seria aquela em que cada classe e cada unidade estivesse fazendo o trabalho ao qual sua natureza e sua aptidão melhor se adaptassem; aquela em que nenhuma classe ou indivíduo iria interferir nos outros, mas todos iriam cooperar na diferença para produzir um todo eficiente e harmonioso (433-4). Este seria um Estado justo.
“Justiça”, diz Platão, “é ter e fazer o que nos compete” (433).
“...cada homem irá receber o equivalente àquilo que produz e irá exercer a função para a qual esteja mais bem preparado”.
Justiça seria como aquela harmonia de relações graças à qual os planetas são mantidos unidos em seu movimento ordenado.
“táxis Kai Kosmos” – uma ordem e a beleza.
A verdade muda de roupa com freqüência (...), mas sob o novo hábito continua sempre a mesma. (...) Todas as concepções morais giram em torno do bem geral.
Moralidade, disse Jesus, é bondade para com os fracos; moralidade, disse Nietzsche, é a bravura dos fortes; moralidade, disse Platão, é a eficiente harmonia do todo”.
Grande parte da política do catolicismo derivou das “mentiras reais” de Platão ou foi por elas influenciada: as idéias do céu, do purgatório e do inferno, em sua forma medieval, têm sua origem detectada no último livro de A República.
Arruma os homens em classes como um entomologista classifica moscas; e não é contrário a usar embustes sacerdotais para assegurar os seus fins.
3. ARISTÓTELES
(...) Mas os dois (Platão e Aristóteles) eram gênios; e é notório que os gênios combinam entre si com a mesma harmonia com que a dinamite combina com o fogo.
A sua metafísica surgiu de sua biologia.
Matéria, em seu sentido mais amplo, é a possibilidade de forma.
Entre várias causas que determinam um acontecimento, a causa final, que determina o propósito, é a mais decisiva e importante.
Agente motor imóvel = primum móbile immotum.
Enteléquia (Entelecheia) = tendo (echo) sua finalidade (telos) dentro (entos); um daqueles magníficos termos aristotélicos que reúnem em si mesmos toda uma filosofia.
Aristóteles destrói a alma a fim de lhe dar a imortalidade.
Aristóteles começa reconhecendo francamente que o objetivo da vida não é a bondade pela bondade, mas a felicidade.
A amizade é mais necessária aos felizes do que aos infelizes; porque a felicidade é multiplicada quando é compartilhada.
Aristóteles combate o realismo de Platão em relação aos universais, e o seu idealismo quanto ao governo.
“Desde a hora do nascimento, alguns são destinado à sujeição, e outros ao comando”.
“O escravo é uma ferramenta dotada de vida; a ferramenta é um escravo inanimado”.
“Se todo instrumento realizasse o seu trabalho, obedecendo ou antevendo a vontade dos outros (...), se a lançadeira tecesse, ou se o plectro tocasse a lira, sem mão a guiá-lo, os chefes não precisariam, com certeza, de assistentes, nem os mestres de escravos”.
Através da fala, o homem desenvolveu a sociedade; através da sociedade, a inteligência; através da inteligência, a ordem; e através da ordem, a civilização. “Para viver sozinho”, diz Aristóteles, “é preciso ser um animal ou um deus” (Política, I, 2. “Ou”, acrescenta Nietzsche, que extrai quase toda a sua filosofia política de Aristóteles, “as duas coisas – isto é, filósofo.”
O governante que quiser evitar uma revolução deve evitar extremos de pobreza e riqueza.
“A dificuldade com a aristocracia hereditária está em que ela não tem base econômica permanente. (...) Onde a capacidade não ocupa o primeiro lugar, não existe a verdadeira aristocracia”.
A democracia é, em geral, o resultado de uma revolução contra a plutocracia.
Tendo em vista que o povo é enganado com muita facilidade, e é muito volúvel quanto a seus pontos de vista, a eleição deveria ser limitada aos inteligentes. O que precisamos é de uma combinação de aristocracia e democracia.
Ele acha que o silogismo é uma descrição da maneira de raciocinar dos homens. (...) Supõe que o pensamento começa com premissas e procura as conclusões dessas premissas, quando na verdade o pensamento começa com conclusões hipotéticas r procura as premissas que o justifiquem.
(...) Como seríamos tolos a ponto de esquecer que dois mil anos apenas alteraram os pontos insignificantes da lógica de Aristóteles, que Occam, Bacon, Whewell, Mill e uma centena de outros só acharam manchas em seu sol e que a criação, por Aristóteles, dessa nova disciplina de pensamento e a sua firme criação das linhas essenciais dessa disciplina continuam entre as duradouras realizações da mente humana!
A ética de Aristóteles é uma ramificação de sua lógica: a vida ideal é como um silogismo adequado.
Ele se esquece que o comunismo de Platão destinava-se apenas à elite, a minoria altruísta e desprovida de ganância.
Não percebe que o controle individual dos meios de produção só era estimulante e salutar quando esses meios eram tão simples que podiam ser adquiridos por qualquer homem.
...E nos primeiros círculos do Inferno, diz Dante:
Vi, lá, o Mestre daqueles que sabem,
Em meio à família filosófica,
Por todos admirado e por todos reverenciado;
Lá vi também Platão, e Sócrates,
Mais perto dele do que os demais.
4. BACON
O segredo da paz não é tornar nossas realizações iguais aos nossos desejos, mas baixar nossos desejos ao nível de nossas realizações. “Se o que você possui lhe parece insuficiente”, disse o estico Sêneca, “então, mesmo que você possua o mundo, ainda irá sentir-se infeliz”.
Achava (...) que o conhecimento não aplicado em ação era uma pálida vaidade acadêmica.
“A indagação da verdade, que é namorá-la ou cortejá-la; o conhecimento da verdade, que é o elogio a ela; e a crença na verdade, que é gozá-la, são o bem soberano das naturezas humanas”.
“Certos livros são para serem provados, outros para serem engolidos, e alguns poucos para serem mastigados e digeridos”.
“O dinheiro é como o esterco, só é bom se for espalhado”.
Para ele, a ciência, por si só, não é suficiente: deve haver uma força e uma disciplina fora das ciências para coordená-las e dirigi-las para um objetivo.
“O saber conquista ou alivia o medo da morte e de um destino adverso”.
“A filosofia nos leva, primeiro, a procurar os bens do espírito; o resto será fornecido ou, então, dele não se sentirá muita necessidade”.
Toda inteligência clara e honesta sabe que nenhuma causa pode ser sem causa, nem qualquer motor não movido. Talvez a maior reconstrução na filosofia devesse simplesmente pararmos de mentir.
“Os homens não são animais eretos, mas deuses imortais”.
Francis Bacon distingue três tipos de ambição da Humanidade. O primeiro é o daqueles que desejam estender seu poder em seu país natal; tipo este que é vulgar e degenerado. O segundo é o daqueles que trabalham para estender o poder de seu país e o seu domínio entre os homens; este tem, sem dúvida, mais dignidade, mas não menos ganância. Mas se um homem se esforça por estabelecer e ampliar o poder e o domínio da própria raça humana sobre o universo, sua ambição é, sem dúvida, uma coisa mais sadia e mais nobre do que as outras duas”.
Este espaço tem a pretensão de ser um abrigo para meus devaneios e viagens através dos meandros da Filosofia. Estará sempre em construção,posto que atingir os limites do conhecimento jamais será possível. Nem arriscaria dizer que pode haver um início, quanto mais limites!
Quem sou eu
- Kalós Kai Agathós
- "Se um homem não quer pensar por si, o plano mais seguro é pegar um livro toda vez que não tiver nada para fazer. É esta prática que explica por que erudição torna a maior parte dos homens mais estúpidos e tolos do que são por natureza (...)" ARTHUR SCHOPENHAUER (A Arte de Escrever)
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