quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Aristóteles, "O mestre dos que sabem"


10/05/2010
O PENSAMENTO DE ARISTÓTELES

"Mestre dos que sabem", assim se lhe refere Dante na Divina Comédia. Com Platão, Aristóteles criou o núcleo propulsionador de toda a filosofia posterior. Mais realista do que o seu professor, Aristóteles percorre todos os caminhos do saber: da biologia à metafísica, da psicologia à retórica, da lógica à política, da ética à poesia. Impossível resumir a fecundidade do seu pensamento em todas as áreas. Apenas algumas ideias. A obra Aristotélica só se integra na cultura filosófica europeia da Idade Média, através dos árabes, no século XIII, quando é conhecida a versão (orientalizada) de Averróis, o seu mais importante comentarista. Depois, S. Tomás de Aquino vai incorporar muitos passos das suas teses no pensamento cristão.
A teoria das causas. O conhecimento é o conhecimento das causas - a causa material (aquilo de que uma coisa é feita), a causa formal (aquilo que faz com que uma coisa seja o que é), a causa eficiente (a que transforma a matéria) e a causa final (o objectivo com que a coisa é feita). Todas pressupõem uma causa primeira, uma causa não causada, o motor imóvel do cosmos, a divindade, que é a realidade suprema, a substância plena que determina o movimento e a unidade do universo. Mas para Aristóteles a divindade não tem a faculdade da criação do mundo, este existe desde sempre. É a filosofia cristã que vai dar à divindade o poder da Criação.
Aristóteles opõe-se, frequentemente, a Platão e à sua teoria das Ideias. Para o estagirita não é possível pensar uma coisa sem lhe atribuir uma substância, uma quantidade, uma qualidade, uma actividade, uma passividade, uma posição no tempo e no espaço, etc. Há duas espécies de Ser: os verdadeiros, que subsistem por si e os acidentes. Quando se morre, a matéria fica; a forma, o que caracteriza as qualidades particulares das coisas, desaparece. Os objectos sensíveis são constituídos pelo princípio da perfeição (o acto), são enquanto são e pelo princípio da imperfeição (a potência), através do qual se lhes permite a aquisição de novas perfeições. O acto explica a unidade do ser, a potência, a multiplicidade e a mudança.
Aristóteles é o criador da biologia. A sua observação da natureza, sem dispor dos mais elementares meios de investigação (o microscópio, por exemplo), apesar de ter hoje um valor quase só histórico não deixa de ser extraordinária. O que mais o interessava era a natureza viva. A ele se deve a origem da linguagem técnica das ciências e o princípio da sua sistematização e organização. Tudo se move e existe em círculos concêntricos, tendente a um fim. Todas as coisas se separam em função do lugar próprio que ocupam, determinado pela natureza. Enquanto Platão age no plano das ideias, usando só a razão e mal reparando nas transformações da natureza, Aristóteles interessa-se por estas e pelos processos físicos. Não deixando de se apoiar na razão, o filho de Nicómaco usa também os sentidos. Para Platão a realidade é o que pensamos. Para Aristóteles é também o que percepcionamos ou sentimos. O que vemos na natureza - diz Platão - é o reflexo do que existe no mundo das ideias, ou seja, na alma dos homens. Aristóteles dirá: o que está na alma do homem é apenas o reflexo dos objectos da natureza, a razão está vazia enquanto não sentimos nada. Daí a diferença de estilos: Platão é poético, Aristóteles é pormenorizado, preferindo porém, o fragmento ao detalhe. Chegaram até nós 47 textos do fundador do Liceu, provavelmente inacabados por serem apontamentos para as lições. Um dos vectores fundamentais do pensamento de Aristóteles é a Lógica, assim chamada posteriormente (ele preferiu sempre a designação de Analítica). A Lógica é a arte de orientar o pensamento nas suas várias direcções para impedir o homem de cair no erro. O Organon ficará para sempre um modelo de instrumento científico ao serviço da reflexão. O Estado deve ser uma associação de seres iguais procurando uma existência feliz. O fim último do homem é a felicidade. Esta atinge-se quando o homem realiza, devidamente, as suas tarefas, o seu trabalho, na polis, a cidade. A vida da razão é a virtude. Uma pessoa virtuosa é a que possui a coragem (não a cobardia, não a audácia), a competência (a eficiência), a qualidade mental (a razão) e a nobreza moral (a ética). O verdadeiro homem virtuoso é o que dedica largo espaço à meditação. Mas nem o próprio sábio se pode dedicar, totalmente, à reflexão. O homem é um ser social. O que vive, isoladamente, sempre, ou é um Deus ou uma besta. A razão orienta o ser humano para que este evite o excesso ou o defeito (a coragem - não a cobardia ou a temeridade). O homem deve encontrar o meio-termo, o justo meio; deve viver usando, prudentemente, a riqueza; moderadamente os prazeres e conhecer, correctamente, o que deve temer.
Também na Poética, o contributo ordenador de Aristóteles será definitivo: ele estabelecerá as características e os fins da tragédia. Uma das suas leis sobre ela estender-se-á, por séculos, a todo o teatro: a regra das três unidades, acção, tempo e lugar.
Erros, incorrecções, falhas, terá cometido Aristóteles. Alguns são célebres. Na zoologia, por exemplo, considera que o homem tinha oito pares de costelas, não reconhece os ossos do crânio humano (três para o homem, um, circular, para a mulher), supõe que as artérias estão cheias de ar (como, aliás, supunham os médicos gregos), pensa que o homem tem um só pulmão. Não esqueçamos: Aristóteles classificou e descreveu cerca de quinhentas espécies animais, das quais cinquenta terá dissecado - mas nunca dissecou um ser humano.
A grandeza genial da sua obra não pode ser questionada por tão raros erros, frutos da época - mais de 2000 anos antes de nós.
FONTE:
HTTP://www.vidaslusofonas.pt/aristoteles.htm - Visita em 10/05/2010.




ESTUDO DIRIGIDO PARA PROVA

Aristóteles nasceu em Estagira na Macedônia em 384 a.C. Aos dezoito anos foi para Atenas, filiando-se à Academia de Platão, tendo aí permanecido por vinte anos. Aluno de Platão, nem por isso Aristóteles tornou-se seu discípulo. As diferenças entre ambos são muitas. A mais notável é que Platão subordina tudo à idéia, ao passo que Aristóteles privilegia o mundo concreto. Rejeitado o idealismo platônico, que separa as formas das coisas, ou seja, o mundo da inteligência separado do mundo das coisas sensíveis, Aristóteles sustenta a existência da realidade objetiva. O realismo aristotélico procura restabelecer essa coerência sem abandonar o mundo sensível: explora a experiência, e nela mesma insere o dualismo entre o inteligível e o sensível. Para ele, é a fonte de conhecimento, mostrando que as formas são a essência das coisas, que não há separação entre os objetos e as formas: estas são imanentes aos objetos. Para ele, as idéias não existem fora das coisas. Dependem da existência individual dos objetos. Só o individual é real. A filosofia aristotélica é, portanto, conceptual como a de Platão, mas parte da experiência. Ambos concordam em que a ciência, a filosofia tem como objetivo o universal e o necessário, pois não pode haver ciência em torno do individual e do contingente, conhecidos sensivelmente. O objeto da ciência aristotélica é a forma, como idéia era o objeto da ciência platônica. No sentido estrito, a filosofia aristotélica é dedução do particular para o universal.
Sua filosofia desenvolveu-se em oposição à da Academia, criticando, sobretudo o dualismo dos platônicos que, segundo Aristóteles, estabelecia uma dicotomia insuperável entre a realidade material do mundo natural e a realidade abstrata do mundo das formas. Ao contrário do que dizia Platão, para Aristóteles o universal não existe na natureza, mas só no espírito, que o absorve através de um processo mental chamado abstração. A única realidade existente se constitui de coisas individuais. O geral é uma abstração, ou seja, um processo psicológico que consiste em isolar as características comuns a um dado conjunto de objetos.
A influência de Aristóteles na formação do pensamento ocidental foi imensa. O pensamento aristotélico e o platônico constituíram de fato as duas grandes vias de desenvolvimento da filosofia clássica, principalmente ao longo do período medieval, quando São Tomás de Aquino se inspira em Aristóteles para desenvolver seu sistema tomista, assim como Santo Agostinho havia se inspirado em Platão ao elaborar um platonismo cristão.
É difícil decidir por onde começar a descrição da metafísica de Aristóteles, mas talvez o melhor lugar seja a sua crítica da teoria das idéias e sua própria doutrina alternativa dos universais. Em termos gerais, pode ser descrita como um Platão diluído pelo senso comum. “Pelo termo universal refiro-me ao que é de tal natureza que constitui o predicado de muitos sujeitos, e por individual, o que não possui tal predicado”. Ou seja, o que se quer dizer com um nome próprio é uma substância, enquanto que o que é significado por um adjetivo ou nome de classe, como humano ou homem, é chamado de universal.
Em sua Metafísica I, seu objetivo é apresentar uma definição ampla de conhecimento e de seu processo de formação desde as sensações até o saber teórico, passando pela experiência, a técnica (arte) e os vários tipos de ciência. Examina as características desses diferentes tipos de conhecimento, definindo a filosofia como a ciência das causas primeiras. Descreve a Metafísica como sendo o estudo do “ser enquanto ser”, isto é, o estudo do ser em geral, independentemente do modo particular como as coisas são. Dito de outra forma, a Metafísica reúne 14 livros que tratam do ser no sentido mais amplo ou mais radical. A Metafísica se interessaria pelas primeiras causas e princípios de tudo o que existe. Duas questões se destacam na metafísica aristotélica: o da unidade do ser e da existência de essências separadas. Muitos dos conceitos metafísicos ainda hoje utilizados foram introduzidos por ele. Em Ética a Nicômano, Aristóteles argumenta, entre outras coisas, a favor da idéia de que as virtudes morais, como a generosidade e a honestidade, não são inatas. Só o hábito de evitar excessos de qualquer tipo nos pode tornar pessoas virtuosas. Por isso, a virtude adquire-se com a prática.
É interessante contrastar a concepção de conhecimento de Aristóteles nesse texto com a de Platão na “Alegoria da Caverna”: enquanto Platão apresenta em sua visão dialética o conhecimento como resultado de um longo e penoso processo de conversão da alma que se afasta do mundo sensível em direção à visão do sol, Aristóteles caracteriza esse processo de forma muito mais linear e cumulativa, desde as impressões sensíveis até o pensamento abstrato. Para ele, as inúmeras lembranças da mesma coisa produzem finalmente o efeito de uma experiência única. A arte se produz quando, a partir de muitas noções de experiência, se forma um único juízo universal a respeito dos objetos semelhantes. A experiência é conhecimento de coisas particulares, ao passo que a arte trata de universais. Para ele, os sentidos são nossas principais fontes de conhecimento sobre as coisas particulares, mas não nos dizem a razão de nada, como por exemplo, por que o fogo é quente, mas apenas que ele é quente.
Segundo Aristóteles, geralmente se supõe que o que chamamos Sabedoria diz respeito às causas e princípios primeiros, de modo que o homem de experiência é considerado mais sábio do que os meros possuidores de uma faculdade sensível qualquer. Sabedoria é o conhecimento de certas causas e princípios.
Há, diz Aristóteles, três espécies de substancias: as sensíveis e perecíveis (plantas e animais), as sensíveis, mas não perecíveis (corpos celestes), e as que não são nem sensíveis nem perecíveis (alma racional do homem, e também Deus). Para ele, Deus é o pensamento puro, porque o pensamento é aquilo que é melhor. Tal qual Spinoza, afirma que, embora os homens devam amar a Deus, é impossível que Deus ame os homens.
A partir de sua concepção da existência real das coisas, Aristóteles estabeleceu quatro princípios ou causas que englobam tudo o que é necessário saber sobre um objeto. Assim, a realidade pode ser explicada mediante quatro causas: material, formal, eficiente e final. As duas primeiras são intrínsecas ao ser; as duas últimas são extrínsecas.
Segundo Aristóteles, tudo o que existe, na realidade e no pensamento, pode ser classificadas em dez categorias, também chamadas gêneros ou predicados. Vejamos alguns exemplos:
1) Substância ou essência: homem, cavalo;
2) Quantidade: grande, dois metros;
3) Qualidade: branco, educado;
4) Relação: triplo, maior;
5) Ato ou ação: comer, nadar;
6) Paixão: cortado, queimado;
7) Lugar: no teatro, na aula;
8) Tempo: ontem, hoje;
9) Posição: sentado, deitado;
10) Hábito: armado, calçado.
Para Aristóteles, o ser se apresenta sob duas formas básicas: a substância e os acidentes. Cada indivíduo é constituído de algo permanente e estável (a substância) e por atributos que se lhe agregam, determinando-os (os acidentes). Substância e acidentes constituem as citadas dez categorias aristotélicas. A substância é o que existe por si, o elemento estável das coisas, e o acidente, o que só em outro pode existir, como determinação secundária e cambiante, que se move.
Aristóteles não nega o vir-a-ser de Heráclito, nem o ser de Parmênides, mas une-os em uma síntese conclusiva, já iniciada pelos últimos pré-socráticos e grandemente aperfeiçoada por Demócrito e Platão. Segundo Aristóteles, a mudança, que é intuitiva, pressupõe uma realidade imutável. O primeiro elemento é chamado matéria prima), o segundo forma (substância). O primeiro é potência, possibilidade de assumir várias formas, imperfeição; o segundo é atualidade – realizadora, especificadora da matéria -, perfeição. A síntese da matéria e da forma constitui a substância, e esta, por sua vez, é o substrato imutável, em que se sucedem os acidentes, as qualidades acidentais. A matéria sem forma, a pura matéria, chamada matéria-prima, é um mero possível, não existe por si, é um absolutamente interminado.
Diversamente da idéia platônica, a forma aristotélica não é separada da matéria, e sim imanente e operante nela. Ou seja, as formas aristotélicas são universais, imutáveis, eternas, como as idéias platônicas. Os elementos constitutivos da realidade são, portanto, a forma e a matéria. Surge daí a necessidade de um terceiro princípio, a causa eficiente, para poder explicar a realidade efetiva das coisas. A causa eficiente, por sua vez, deve operar para um fim, que é precisamente a síntese da forma e da matéria, produzindo esta síntese o indivíduo. Daí uma quarta causa, a causa final, que dirige a causa eficiente para a atualização da matéria mediante a forma.
É mediante a doutrina da matéria e da forma que Aristóteles explica o indivíduo, a substância física, a única realidade efetiva do mundo, que é precisamente síntese da matéria e da forma. O indivíduo é, portanto, potência realizada, matéria enformada, universal particularizado. Através desta doutrina é explicado o problema do universal e do particular.
Da relação entre a potência e o ato, entra a matéria e a forma, surge o movimento, a mudança, o vir-a-ser, a que é submetido tudo o que tem matéria, potência. A mudança é, portanto, a realização do possível.
Aristóteles elaborou a teoria do ato e da potência para explicar a questão da mudança dos seres. Para ele, o ato é a perfeição e a potencia é a capacidade de perfeição. Ou seja, toda mudança significa a passagem da potencia para o ato, do que resulta o movimento. Passar do ato à potência é mover-se, tornar-se o que se pode ser e ainda não se é. Todos os seres são compostos de potencia e ato. Apenas um ser não é composto de potência e ato, pois é ato puro, é eterno, independente de tudo, perfeição infinita: Deus. Deus é pensamento de pensamento.
A doutrina da potencia e do ato é fundamental na metafísica aristotélica. Potência significa possibilidade, capacidade de ser, não-ser atual. Ato significa realidade, perfeição, ser efetivo. Um ser desenvolve-se, aperfeiçoa-se, passando da potencia ao ato. Esta doutrina fundamental da potencia e do ato é aplicada e desenvolvida por Aristóteles especialmente quando da doutrina da matéria e da forma, que representam a potencia e o ato no mundo, na natureza em que vivemos.
Podem-se reduzir fundamentalmente a quatro as questões gerais da metafísica aristotélica: potência e ato, matéria e forma, particular e universal, movido e motor. A primeira e a última abraçam todo o ser, a segunda e a terceira todo o ser em que está presente a matéria.
Finalizando, prestemos atenção ao seguinte diálogo:
“- Temos de expulsar Aristóteles de nós.
- Mas eu nem sequer o li, por que razão tenho de expulsá-lo de mim?”
- A prova de seu domínio sobre o homem ocidental é que ele domina o pensamento de gente que nunca ouviu falar a seu respeito.”
Trecho extraído de uma obra literária holandesa, e expressa, de forma magnífica, a extraordinária influencia do pensamento aristotélico sobre toda a cultura ocidental, influencia que perdura há mais de dois milênios.

Podem-se reduzir fundamentalmente a quatro as questões gerais da metafísica aristotélica:
a) Potência e ato – Aristóteles elaborou a teoria da potência e do ato para explicar a questão da mudança dos seres. Para ele, o ato é a perfeição e a potência é a capacidade de perfeição. Ou seja, toda mudança pressupõe a passagem da potência ao ato, do que resulta o movimento. Passar do ato à potência é mover-se, tornar-se o que se pode ser e ainda não se é. Todos os seres são compostos de potência e ato. Apenas um ser não é composto de potência e ato, pois é ato puro, é eterno, independentemente de tudo, perfeição infinita: Deus. Deus é pensamento de pensamento. A doutrina de potência e do ato é fundamental na metafísica aristotélica, na qual potência é possibilidade, capacidade de ser. Ato significa realidade, perfeição, ser efetivo. Um ser desenvolve-se, aperfeiçoa-se, passando da potência ao ato. Esta doutrina fundamental é aplicada e desenvolvida por Aristóteles, especialmente quando da doutrina da matéria e da forma, que representam a potência e o ato no mundo, na natureza em que vivemos.
b) Matéria e forma – Rejeitado o idealismo platônico, que separa as formas das coisas, Aristóteles sustenta a existência da realidade objetiva, explorando a experiência. As formas são a essência das coisas, não há separação entre os objetos e as formas. As idéias não existem fora das coisas. Dependem da existência individual dos objetos. Só o individual é real. A partir de sua concepção de existência real das coisas, Aristóteles estabeleceu quatro princípios ou causas que englobam tudo o que é necessário saber sobre um objeto. Assim, a realidade pode ser explicada mediante quatro causas: material, formal, eficiente e final. As duas primeiras são intrínsecas ao ser; as duas últimas são extrínsecas. Para ele, o ser se apresenta sob duas formas básicas: a substância e os acidentes. Cada indivíduo é constituído de algo permanente e estável (substância) e por atributos que os determinam (acidentes). Substância e acidentes constituem as dez categorias aristotélicas (substância, quantidade, qualidade, relação, ato ou ação, paixão, lugar, tempo, posição e hábito). Segundo Aristóteles, a mudança pressupõe uma realidade imutável. O primeiro elemento é chamado matéria (prima), o segundo forma (substância). O primeiro é potência, o segundo, atualidade, perfeição. A síntese da matéria e da forma constitui a substância, e esta, é o substrato imutável, em que se sucedem os acidentes, as qualidades acidentais. A matéria sem forma é um mero possível, não existe por si é um absolutamente inacabado.
c) Universais e particulares – para Aristóteles, as idéias não existem fora das coisas. Dependem da existência individual dos objetos. Só o individual é real. A filosofia de Aristóteles é dedução do particular para o universal. Ao contrário do que dizia Platão, o universal não existe na natureza, mas só no espírito, que o absorve através de um processo mental chamado abstração. A única realidade existente se constitui de coisas individuais. O geral é uma abstração. Talvez o melhor ponto para começar a entender a metafísica de Aristóteles seja o que critica a teoria das idéias de Platão a sua própria teoria dos universais. “Pelo termo universal refiro-me ao que é de tal natureza que constitui o predicado de muitos sujeitos, e por individual o que não possui tal predicado. Ou seja, o que se quer dizer com um nome próprio é uma substância, enquanto que o que é significado por um adjetivo ou nome de classe, como humano ou homem, é chamado de universal. A arte (técnica) se produz quando, a partir de muitas noções de experiências, se forma um único juízo universal a respeito dos objetos semelhantes. A experiência é conhecimento das coisas particulares, ao passo que a arte trata dos universais. Para ele, os sentidos são nossas principais fontes de conhecimento sobre as coisas particulares, mas não nos dizem a razão de nada, como por exemplo, por que o fogo é quente, mas apenas que ele é quente”.
d) Movido e motor – É mediante a doutrina de matéria e forma que Aristóteles explica o indivíduo, a substância física, a única realidade efetiva do mundo, que é precisamente síntese da matéria e da forma. O indivíduo é, portanto, potência realizada, matéria enformada, universal particularizado. Através desta doutrina é explicado o problema do universal e do particular. E, da relação entre a potência e ato, entre a matéria e a forma, surge o movimento, a mudança, o via-a-ser, a que é submetido tudo o que tem matéria, potência. A mudança é, portanto, a realização do possível.

AS CAUSAS PRIMEIRAS DA EXISTÊNCIA

• A Metafísica de Aristóteles investiga os mais profundos sentidos e propósitos do ser.
• A existência dos seres sempre despontou como um dos grandes mistérios da humanidade. “Por que existe algo em vez de o nada? O que faz com que se formem as estrelas, a árvore, o homem? Qual é, enfim, a essência do ser?” São perguntas que continuam a desafiar a mente dos filósofos, físicos e biólogos.
• A Metafísica – “as coisas além da física” – não foi organizada por Aristóteles como obra unitária. Na realidade, ela está dividida em 14 livros, escritos em diferentes épocas, que, no entanto conservam uma “unidade especulativa de fundo”, segundo Reale.
• O livro I – ou livro Alfa pode ser considerado uma introdução à obra. Nele, Aristóteles afirma que a Metafísica – “a mais elevada das formas de saber humano” – consiste no conhecimento das “causas e princípios primeiros”, que condicionam o ser: a causa formal, a causa material, a causa eficiente e a causa final. As duas primeiras se referem à forma e à matéria, que estruturam todas as coisas sensíveis.
• A causa eficiente é aquilo de que provém a mudança e o movimento das coisas. Já a causa final diz respeito ao propósito, à finalidade dos seres. “Além de todas essas causas, existe aquele que ‘acima de todos os seres move todas as coisas’, vale dizer, o Movente Imóvel ou Deus, que age como causa final ou como causa motora-final”.
• Aristóteles compõe, ainda no livro I, uma espécie de história da filosofia, reproduzindo as idéias sobre o ser defendidas pelos pensadores dos séculos anteriores, como Empédocles, Anaxágoras e Demócrito. Um amplo espaço é dedicado à filosofia de Platão, de quem Aristóteles havia sido discípulo.
• Todos os filósofos anteriores a Aristóteles não falaram senão das quatro causas citadas pelo autor da Metafísica, embora de maneira imperfeita e confusa.
• Aristóteles distingue quatro formas de significado do ser – “por acidente”, “por si mesmo”, “como verdadeiro e como falso” e “em potência e ato”.
• Entre essas quatro grandes distinções, Aristóteles desconsidera o ser “por acidente” – que se refere apenas a um atributo da coisa, como quando se diz “Sócrates é músico”, mas não a coisa em si – e o ser “como verdadeiro e como falso”, que revela somente a veracidade ou não do objeto.
• O mais profundo sentido do ser, diz Aristóteles, reside nos dois outros tipos de significado – o ser “por si mesmo” e “em potência ou em ato”.
• Conhece-se o ser “por si mesmo” através de dez “categorias”, entre elas as categorias “substância”, “qualidade”, “quantidade” e “ação”, por exemplo. Dessas, a mais importante é a primeira. Substância – que traduz a palavra grega ousia – é o fundamento primeiro das coisas, de que todo o mais decorre.
• Diz com insistência que nenhuma das outras categorias existe por si e ‘separadamente’ da substância e que só a substância é ‘separada’, isto é, autônoma, independente das outras.
• A pergunta radical sobre o sentido do ser deve centrar-se sobre a substância. Que é, então, a substância? Eis o problema que na Metafísica de Aristóteles se põe como ponto focal, sm sentido global, para todos os efeitos.
• Substância parece se confundir com matéria, mas não só. Ambas se distinguem porque, enquanto a substância possui determinações – o que a faz ser uma coisa e não outra -, a matéria é desprovida delas. Matéria sem substância não passa de um ser sem significado, sem determinações. Pode-se dizer que substância possui matéria, mas não somente ela. É preciso algo mais para dar conta desse conceito. Esse algo é a forma.
• A forma pode ser entendida como a substância desprovida de matéria. É ela que faz da substância aquilo que ela é e dá à matéria as suas determinações. Matéria e forma são separadas apenas no pensamento. Na realidade do mundo, estão sempre unidas. É inconcebível, para Aristóteles, haver matéria sem forma e vice-versa.
• Enfim, substância é um composto de forma e matéria. Graças a esse composto é que se pode conceber o ser “em potência ou em ato”. “Em potência” se refere à matéria indeterminada, pronta a ser passivamente determinada pela forma. “Em ato” significa a ação da forma sobre a ateria. Como ocorre quando se constrói uma casa, exemplifica Aristóteles: os tijolos e pedras representam a casa “em potencial”, a matéria, que passam a ser uma casa quando sofrem a ação da forma.
• O gênero humano vive também da arte e de raciocínios. Nos homens, a experiência deriva da memória. De fato, muitas recordações do mesmo objeto chegam a constituir uma experiência única. A experiência parece um pouco semelhante à ciência e a arte. Com efeito, os homens adquirem ciência e arte por meio da experiência.
• A experiência é conhecimento dos particulares, enquanto a arte é conhecimento dos universais.
• Se alguém possui a teoria sem a experiência e conhece o universal, mas não conhece o particular que nele está contido, muitas vezes errará o tratamento, porque o tratamento se dirige, justamente, ao indivíduo particular.”“.

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